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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A HISTÓRIA DO TABACO


A HISTÓRIA DO TABACO 
Dr José Rosemberg



O berço no qual se disseminou a nicotina conduzida pelo tabaco foi a América. É de tempos imemoráveis o costume dos aborígines americanos de fumar tabaco nas cerimônias religiosas. É um enigma que tantas culturas indígenas espalhadas neste continente, as quais dificilmente podiam contactar-se, vivenciassem ritual semelhante mágico-religioso, sagrado, no qual o sacerdote, cacique ou pajé e seus circunstantes entravam em transe aspirando o fumo do tabaco.
Quando Colombo aportou nestas paragens, plantava-se tabaco em todo o continente. Uma das primeiras notícias foi levada à Espanha por Don Rodrigo de Jeres, capitão da tripulação das naves de Colombo, levando para a Corte planta e sementes de tabaco. A primeira referência impressa é de 1526 na História Natural de Ias índias, de Don Gonzalo Fernandes. Para Portugal, a primeira leva de tabaco foi através de Luís de Góes, donatário no Brasil em 1542, sendo cultivado pela Farmácia Real em Lisboa. Para a França, o tabaco chegou por dois caminhos; remetido em 1560 por Damião Góes, ex-embaixador na Flandres, a Jean Nicot, por sua vez embaixador da França em Portugal. Este atribuiu à erva, então denominada "petum", a cura de úlcera renitente que tinha na perna. Entusiasmado, enviou-a a rainha Catarina de Médicis, que informada de suas virtudes, usou-a em tizanas para melhorar sua enxaqueca crônica. O petum passou então a ser chamado "erva da rainha", "erva mediceia" ou "catarinária". Outro caminho para a França foi através de André Thevet, frade franciscano, que esteve no Brasil como capelão da expedição francesa chefiada por Cologny. Thevet, em 1555, cultivou o petum no jardim do seu mosteiro em Paris. Em 1565, o tabaco chegou a Inglaterra por meio de Sir Hawkins, trazendo-o das plantações da colônia Virgínia e cultivando-o em Londres.

Navegadores e viajantes informaram sobre o tabaco, destes destacaram-se Hans Staden, em 1557, e Jean Lery, em 1592, cujos relatos foram ilustrados com gravuras de pajés e oficiantes índios fumando em rituais religiosos.
O tabaco espalhou-se pela Europa como rastilho de pólvora. Cinqüenta anos após sua chegada, praticamente se fumava cachimbo em todo o continente: nobres, plebeus, soldados e marinheiros. Para os ricos, criaram-se as "Tabagies", onde homens e mulheres se reuniam em tertúlias, fumando longos cachimbos. Rapidamente o tabaco integrou-se a todas as populações do mundo civilizado (137,211,1012).
Na Prússia, o tabagismo difundiu-se impulsionado por Frederico Guilherme, que no início do século XVIII, em sua corte, fundou o "Tabak Collegium", no qual, diariamente, ministros, generais, políticos e literatos discutiam, propunham e assinavam decretos, sentados em torno de imensa mesa chupando cachimbos com hastes de meio metro ou mais (211). A partir do século XVII, na Europa, praticamente todos os generais, soldados e populares fumavam. Um exemplo disso é o enorme navio "Vasa", orgulho da frota escandinava, que afundou em 1628. Em 1961, ele foi içado, com sua estrutura e utensílios intactos. Entre estes, recuperaram-se centenas de cachimbos de argila, testemunhando como, já no início do século XVII, o tabagismo estava tão disseminado. Tapeçarias dos séculos XVII e XVIII, flamencas, francesas e de outros países, mostram personagens com cachimbos. Pintores célebres de toda Europa, desses referidos séculos, reproduziram em suas telas, personagens fumando ou aspirando rapé. Tudo isso atestando como o tabagismo rapidamente se difundiu, constituindo um dos maiores fenômenos de transculturação no mundo (137,211,1012) .

O nome "nicotina" deriva de Nicot. Entre os cientistas dedicados à botânica, estabeleceu-se longa polêmica sobre a prioridade do tabagismo, havendo partidários de Nicot e de Thevet (1012). Na sua obra "L'histoire des plantes", Jacques Delachamps, médico e agrônomo, denominou a planta "erva de Nicot". Em 1584, o dicionário francês-latim de Etienne e Thiery incluiu o verbete "nicotiana" (211). Os partidários de Thevet contestaram essa nomenclatura, propondo a denominação thevetiana. A controvérsia arrastou-se por cerca de dois séculos, sendo definitivamente encerrada a favor de Nicot, em 1737, com a primeira classificação científica de Linneu, registrando Nicotiana tabacum e as variedades Nicotiana rústica, Nicotiana glutinosa e Nicotiana penicilata (70,255). Existem ainda outras variedades, especialmente as identificadas no Peru. As consagradas são a Nicotiana tabacum, mais difundida por ser suave e de aroma delicado, e a Nicotiana rústica, mais forte e de paladar menos agradável, usada em algumas regiões e por mais tempo, na Rússia (137,1012).
Em 1809, Vauquelin identificou no extrato do tabaco um princípio básico nitrogenado, denominando-o de "nicotianina". Em 1828, Posselt e Reimann, da Universidade de Heildelberg, isolaram o referido princípio denominando-o "nikotin". Porém, na França, o vocábulo "nicotina" já era conhecido desde 1818, conforme informa o dicionário Robert. A fórmula química bruta da nicotina, CH10H14N2, foi determinada em 1840. A nicotina foi sintetizada primeira vez em 1890 (70,113,137,211,255,826,827,840,1012),
Encerrando, ficamos imaginando que se Thevet tivesse ganhado a batalha pela prioridade do fumo, então chamado "petun", esta monografia estaria discorrendo sobre a "tevetina".

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